sábado, 24 de setembro de 2011

Ainda Paris e a Novela dos Molinetes

Vocês sabem o que é um molinete? Para quem não sabe, molinete é uma carretilha com manivela que se fixa na parte lateral da vara de pescar. Por ela se lança o anzol na água e se puxa o peixe, quando fisgado, através da manivela. Velha conhecida dos pescadores.
Pois bem. Desde que chegamos a Paris, Celia, cujo marido é um grande pescador - inclusive no tamanho porque tem quase dois metros de altura - dizia que precisava encontrar uma loja onde pudesse comprar um molinete, de boa qualidade, para ele. Em nossos passeios a pé, sempre que passávamos por uma loja de artigos esportivos, ela entrava e perguntava. Mas nada, ninguém sabia. Se ele fosse tenista ou aficionado por golfe, teria sido mais fácil. Mas como Celia é persistente e não desiste nunca, aproveitamos o dia em que Luiza e Vera foram a Londres e após nossa visita ao Museu D'Orsay e um gostoso almoço nos Jardins de Tuilleries,  fomos à Galleries Lafayettes, notório centro de compras tão ao gosto dos brasileiros - aliás o prédio principal é magnífico com uma cúpula de cair o queixo - para ver se descobríamos uma loja que vendesse molinetes. Ao entrar, nos dirigimos ao balcão de informações e ao iniciar a pergunta (sempre a mesma) "você sabe onde posso encontrar artigos de....", a mocinha que nos atendia disse que podíamos falar em português porque era brasileira, de João Pessoa e trabalhava ali logicamente para atender à montanha de brasileiros que entram diariamente naquelas Galleries. Em resposta nos informou que poderíamos encontrar artigos de pesca somente na Decathlon e havia uma, não muito longe, nas proximidades da igreja da Madeleine.
Ora, Decathlon é a mesma loja que tem aqui em São Paulo e também em Campinas, mas acho que em Belo Horizonte não tem, porque Celia não a conhecia. Seguimos nossa caminhada pelo Bl. Haussmann, passando pela C&A, pela Zara (não entramos para não perder tempo)  pela imensa Printemps - onde fomos ao departamento de esportes, mas nada -,  pela Petit Bateau - loja estilosa de moda infantil mas um tanto cara - até que a uns oito quarteirões, enormes, de caminhada, chegamos à maravilhosa e imensa Église de la Madeleine, que tem a forma de um templo grego. Vocês sabiam que os franceses são um dos únicos, senão o único povo do mundo a homenagear Maria Madalena com uma belíssima igreja? Grande parte deles acha que ela foi efetivamente a esposa de Jesus.
Pois bem. Chegamos à Igreja pela parte de trás e iniciamos a caminhada ao redor da praça, à procura da Decathlon. Após muito andar, porque ela estava do outro lado, avistamos a loja, subterrânea, no início do Bl. de la Madeleine. Finalmente... será? Ao ouvir a famigerada indagação, a moça do caixa respondeu que artigos de pesca, nós iríamos encontrar somente na Decathlon da Av. Carnot, uma avenida que se inicia no Arco do Triunfo, do lado contrário aos Champs Elysées. Bem distante, portanto. Nos olhamos desanimadas e cansadas. Pelo menos agora sabíamos onde achar o produto, mas seguramente em outro dia, porque nosso estado de exaustão não permitia mais caminhadas. Para nos animar um pouco, bem à nossa frente, estava a famosa patisserie Fouchon, instalada na place de la Madeleine há mais de 100 anos. Lá encontra-se de tudo, chás, geléias, lindos doces, chocolates, pães de todo tipo, foie-gras para quem gosta - mais de 30 tipos - e também os calissons, deliciosos docinhos de amêndoa. Tem alguma coisa mais chic do que servir o chá em porcelana Limoges? Pois na Fouchon é assim.
Após esse intenso dia, retornamos de metrô ao hotel para um merecido descanso.

domingo, 11 de setembro de 2011

Rouen, a Capital da Normandia

Após o lindo passeio à casa e jardins de Claude Monet, em Giverny, rumamos para Rouen, capital da alta Normandia, às margens do rio Sena. Foi fundada no tempo dos romanos, sofreu muitas invasões bárbaras até que no seculo IX, após invasão dos vikings ou normandos, a cidade e toda a região - que passou a se chamar Normandia - passou para a posse dos conquistadores escandinavos, chefiados por Rollo, o primeiro duque da Normandia. Um de seus descendentes, William the Conqueror, invadiu e conquistou a Inglaterra, em 1066, lá iniciando a dinastia Plantageneta. E a Normandia passou assim ao domínio inglês até que foi reconquistada para a França por Felipe II, em 1204. A região voltaria ainda para o domínio inglês no correr da Guerra dos Cem Anos, ocasião em que foi aprisionada e executada Joana D'Arc, precisamente em 1431. Em meio a uma praça, está o local, apenas com uma tabuleta dizendo que foi lá que a heroína francesa foi queimada. E a data, ponto.
As construções possuem em sua fachada, quase todas, trabalhos em madeira, típicos da região. Vejam a foto.

Um dos cartões postais da cidade é o Grande Relógio - Gros Horloge - construído no século XVI em um arco sobre uma das ruas principais. Dentro existe um museu e uma escadaria de pedra, infindável, que não subimos.
Mas o mais impressionante é a imensa catedral gótica, cuja construção iniciou-se em 1145 e terminou apenas no século XVI. Ela é muito grande e muito bonita, com aqueles vitrais coloridos peculiares das igrejas francesas. Vejam.
Quando se entra, é difícil descrever a sensação de grandiosidade, que emociona e nos torna muito pequenos.
Enfim, foi um dia magnífico - Giverny e os jardins de Monet e Rouen, uma cidade francesa diferente. Recomendo a quem for a Paris e tiver um tempo disponível.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Os Jardins de Monet

Era um consenso entre nós quatro, mesmo antes de sairmos do Brasil, de que deveríamos visitar Giverny onde fica a casa e os famosos jardins que pertenceram ao pintor Claude Monet. A idéia inicial e mais econômica era irmos, durante a semana de nossa estada em Paris, de trem para Vernon e de lá tomaríamos um ônibus a Giverny. Na volta, pegaríamos novamente o trem, dessa vez para Rouen, a capital da Normandia e que não fica muito distante de Vernon. E à noite voltaríamos também de trem a Paris.
Acontece que, no dia anterior de nosso passeio, marcado para 5a. feira, Luiza e Vera iriam passar o dia em Londres, saindo de Paris pelo Eurostar às 6.30h da manhã e retornando por volta de meia-noite, horário de Paris - existe diferença de uma hora a menos no fuso horário entre Paris e Londres. Ou seja, iriam chegar de madrugada, cansadíssimas. Impossível cumprir a maratona marcada para o dia seguinte.
Lembrei-me então de uma empresa de brasileiros - a Conect Paris - que presta serviços de traslados e diversos passeios. Telefonei ao François - sorte que havia levado seu telefone - e por um preço bastante razoável por pessoa, contratei seus serviços para levar-nos a Giverny e Rouen no dia marcado. Grata surpresa. François é um jovem mineiro - portanto compatriota de minhas companheiras - filho de um francês que é professor titular de geologia da UFMG. De ótima aparência, educado, fino, paciente ao extremo, dirigindo uma van novíssima e linda. Saímos em torno de 8h da manhã e só retornamos às 9h da noite, um passeio magnífico. Quem se interessar pelo telefone e o e-mail do François é só pedir.
O que dizer da casa de Monet e seus jardins? Simplesmente que é um deslumbramento, um passeio inesquecível. Flores dos mais diversos matizes e variedades, a casa, muito bem preservada com móveis e quadros que pertenceram ao pintor. O tamanho das flores, principalmente das rosas, é surpreendente, nunca vi por aqui.

Lá está também o lago das nympheas, que inspirou um dos mais famosos quadros de Claude Monet.
Não é uma maravilha? Isso é apenas uma amostra, recomendo o passeio. Após almoçarmos em um restaurante campestre que François nos levou - a comida é ruim mas o lugar é lindo, com moinho d'água e tudo - seguimos para Rouen, que fica a uns 50 minutos de Giverny. Acompanhem no próximo post.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Ainda Paris...

Não sei se já comentei aqui, mas morei na França por quase tres anos, entre l997 e 1999, não em Paris, mas na Côte D'Azur, em Villefranche sur Mer, uma pequena cidade logo ao lado de Nice, indo em direção a MonteCarlo. Nesse período, convivemos - éramos tres pessoas, meu marido, hoje já falecido, eu e minha filha mais nova, então com 12 anos - com algumas famílias francesas e com muitos expatriados, tais como italianos, alemães, americanos, que viviam na região. Dessa convivência, pude concluir que os franceses são um povo altamente disciplinado, discreto -  não interferem em sua vida e também não gostam que interfiram na deles -, um pouco desconfiado e preconceituoso em relação aos estrangeiros. Mas quando são amigos, são amigos em qualquer circunstância e ponto final. Os italianos, maldosos e falantes, diziam que os franceses eram alemães dissimulados, pelo excesso de regras a serem seguidas, mas tudo com muita discrição. É claro que fomos a Paris inúmeras vezes, tanto nesse período como em retornos posteriomente à volta ao Brasil. Sempre de carro porque meu marido adorava dirigir e percorríamos os 1000km - distância de Nice a Paris - em pouco mais de 10 horas de viagem. Paris sempre foi fascinante e por mais que lá se vá, sempre se quer voltar. Nunca é o suficiente.
Mas por que estou contando tudo isso? Porque era grande a minha expectativa em relação à nossa ida de agora, conforme descrevi no post anterior. A última vez que lá estivera, juntamente com meu marido e minha filha, fora em 2004, portanto há 7 anos. Muita coisa mudara? Não, não muito. Mas confesso que o que mudou, mudou para pior. A cidade está suja, meio abandonada, entupida de gente, apesar de ainda não ser verão, os garçons continuam mal educados - mas já era assim. Tres pontos, sobretudo, chamaram minha atenção. Primeiro, o metro, com trens sujos, velhos caindo aos pedaços, superlotados e desconfortáveis. Andamos em quase todas as linhas e as duas únicas boas, relativamente novas, são a linha 1, que atravessa o centro - Rivoli, Champs Elysées - e a linha 14 que vem da Biblioteca François Miterrand, passando por Bercy até a Madeleine, uma linha curta. Em segundo lugar, está a completa falta de respeito às faixas de pedestres, coisa inimaginável no período em que vivi na França. Naquela época, se você pisasse na faixa para atravessar, imediatamente todos os veículos, inclusive ônibus, motos, paravam e davam a preferência ao pedestre. Agora, quase fui atropelada por um ônibus ao tentar atravessar, na faixa, a Avenue de l'Opera e o motorista ainda me xingou, como se eu estivesse praticando uma contravenção. As motos, normalmente de grande porte, então, nem mesmo respeitam o sinal vermelho existente em algumas faixas, passam direto, o pedestre que se vire. Parece até que se está em cidade brasileira. E finalmente, o aumento expressivo de "sem tetos" nas ruas de Paris, espalhados por todos os lados, sempre acompanhados de cachorros que os franceses adoram. Ou seja, muita miséria exposta a céu aberto. Realmente, a crise na Europa é grave. Paris não é mais a mesma, mas ainda assim continua fascinante.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Fiquei um tempão sem escrever porque viajei para Minas Gerais para visitar minha família mineira. Hospedei-me em casa de Celia, minha companheira de aventuras russas e participei da festa de 91 anos da mãe dela, minha tia e madrinha Dyla. Viajamos depois para Diamantina, no vale do Jequitinhonha, terra de Juscelino Kubistchek e de Xica da Silva, cidade com inúmeros eventos musicais e que merece um post especial.
Mas agora falaremos de nossa chegada e estadia em Paris por oito dias, após aquela saída atribulada de São Petersburgo descrita no post passado.
Fomos em quatro a Paris, Vera e Luiza chegaram mais cedo, Celia e eu chegamos por volta das 13h, hora local. Ana e Jose seguiram para Londres e depois para Oslo. Iriam fazer um tour pela Escandinávia. Encontramos Jean Louis, nosso motorista da empresa de traslado, que nos levou ao hotel All Seasons em Bercy. Após acomodação e um pequeno descanso, saímos em direção ao Cour St. Emilion para comer alguma coisa. O Cour St. Emilion é uma rua só de pedestres ladeada por edificações em pedra e tijolo, tipo armazéns e que originalmente abrigaram depósitos de secos e molhados. Hoje abrigam restaurantes, bares, bistrôs, lojas diversas em meio a muitas flores e portais de época. Parece que vc. volta aos anos 20 do século passado. Turistas estrangeiros dificilmente andam por ali, somente franceses, não só de Paris como do interior, porque a região está fora do circuito turístico. Vale a pena conhecer, é muito lindo. Quem vier de metro, pegue a linha 14 e desça na estação Cour St. Emilion, em frente ao lugar.
Aliás, todo o "arrondissement " de Bercy é excelente para hospedagem. Apesar de ser distante do centro turístico - Paris Est - é servido por duas linhas de metro, a 6 e a 14, que é a linha mais nova e mais bonita. Há bons hotéis, principalmente os do Grupo Accor, como Ibis, Novotel, All Seasons e está próximo à Gare de Lyon. Lá estão o Ministério das Finanças e o Palais Omnisports, onde se realizam inúmeros shows musicais, além do Cour St. Emilion, descrito acima. E por fim, para completar,  há ainda um belíssimo parque para um bom fitness matinal, antes da maratona de  passeios. Se vocês não se incomodarem em ficar longe do centro turístico, que tem hotéis caros em geral e nem sempre confortáveis, recomendo Bercy, um oásis na cidade.
Como era a primeira vez em Paris de minhas tres companheiras, fizemos aqueles passeios tradicionais, que todos conhecem, como Versailles, Montmartre, torre Eiffel, Trocadero, Champs Elysées, Notre Dame, Av. Montaigne, St. Germain, fomos ao Louvre e ao Museu D'Orsay, nauralmente, enfim tudo o que um turista de primeira viagem faz. Contudo, fizemos também um passeio que nem todos os turistas fazem mas que merece ser feito, magnífico e deslumbrante: os Jardins de Monet, em Giverny e depois Rouen, a capital da Normandia e cidade que queimou Joana D'Arc. Mas este passeio merece um post à parte.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O "sufoco" no Adeus à Russia

Havia chegado o dia da partida. Maria Lucia e Angelica voltariam para o Brasil, via Paris. Luiza e Vera iriam parar em Paris, pegando o mesmo voo. Celia, eu, Ana e Jose iríamos também a Paris, mas em um voo mais tarde. A maioria do pessoal do navio, que voltaria para o Brasil, saiu muito cedo, em torno de 4h da manhã, em vários ônibus com os guias. Nós quatro, juntamente com duas senhoras do Rio de Janeiro mais um casal que iria para Praga, fomos colocados em uma van com motorista russo, sem guia, com a instrução de descermos na primeira parada da van no terminal de embarque.
Acontece que, ao chegar ao aeroporto, a van foi impedida por um policial de acessar o terminal de embarque e foi direcionada para o estacionamento de veículos, onde o motorista descarregou as bagagens e nos deixou sem qualquer explicação. No meio daquela montanha de malas, todas pesadíssimas em virtude das inúmeras compras, olhamos em volta atônitos à procura de carrinhos para depositar a bagagem. Não havia. Vocês já ouviram falar de aeroporto que não tem carrinho de bagagem? Pois o de São Petersburgo é assim. Celia e Ana até tentaram achar algum, mas em vão. Decidimos então transportar todas as malas até a porta de entrada que não ficava longe, em meio a muitas risadas pela situação inusitada. Ao  chegar finalmente à entrada, depois de muitas idas e vindas carregando e vigiando as malas, topamos com uma policial troncuda, de cara enfezada e muito feia. Imediatamente as risadas cessaram. À nossa frente havia tres aparelhos de raio X ou seja, deveríamos colocar todas as malas e sacolas nesses aparelhos para entrar no aeroporto. Isso sem contar o monte de gente apressada em nossa retaguarda. Imaginem a cena: quatro pessoas, cada uma com duas malas grandes, fora bolsas de mão - Celia tinha tres malas, mas muito perita, encontrou um jeito de empurrá-las sem ajuda - dois de nós colocavam as malas no raio X e dois esperavam do lado de dentro para retirá-las. E por incrível que pareça tudo foi feito rapidamente para desafogar a fila, nem sentíamos o peso dos volumes, tal era o nervoso e a ansiedade que tomara conta de todos.
Passada a primeira dificuldade, era necessário encontrar o terminal de embarque. No andar em que entramos, embaixo, havia um grande painel luminoso de voos, escrito somente em russo, ou seja, sem chance de entendimento. Logo à esquerda do painel havia um elevador e uma escada por onde passavam dezenas de pessoas apressadíssimas. Postei-me ao lado da escada e fui perguntando aos passantes, "do you speak english?", ninguém atendia, até que uma mocinha, caridosa, parou e diante de minha pergunta sobre o terminal de embarque, disse-nos que ficava no andar de cima. Tínhamos que colocar aquela montanha de malas no elevador, pequeno, para subir, juntamente com outras pessoas, claro. Foram feitas muitas viagens, sobe-desce-espera, até que finalmente conseguimos levar tudo para cima. Lá chegando, um enorme saguão, com inúmeras filas de passageiros para embarque, como achar a nossa companhia, porque tudo também estava escrito só ... em russo. Por sorte encontramos as duas senhoras do Rio de Janeiro que tinham acabado de fazer o checkin e nos levaram ao respectivo balcão que por sinal não tinha fila. Era um alívio nos livrarmos daquela montanha de bagagem que havia sido arrastada desde o estacionamento lá embaixo.
Mas a novela não havia terminado. Após o exame dos passaportes, entramos em um espaço com novas máquinas de raios X e policiais, dessa vez falando inglês, nos mandaram tirar os sapatos que foram colocados em uma caixa juntamente com bolsas,casacos, cintos, relógios, aneis, passaportes, enfim tudo que se levava na mão. Depois de passar pela máquina, uma policial para as mulheres e um policial para os homens nos fizeram uma revista pessoal minuciosa, apalpando tudo e de todos os lados. Após a liberação, colocamos nossos sapatos, pegamos nossa bagagem de mão e demais acessórios e documentos e finalmente entramos na área de embarque. Ufa, que sufoco, tivemos que vencer inúmeras barreiras para pegar um avião e sair da Rússia. Próxima parada, Paris, uma outra história...

sábado, 23 de julho de 2011

São Petersburgo à Noite

Noite quer dizer madrugada, porque nesta época, em plena primavera, começa a escurecer a partir das 23.30h. Portanto, nossa excursão noturna partiu do navio mais de meia noite, quando não estava ainda totalmente escuro. O grupo em companhia de Dmitri passeou por lugares qua havíamos visto de dia, mas que à noite pareciam outros, com as luzes a pleno vapor. Mesmo assim, a cidade é menos iluminada que Moscou, um prodígio de luzes e enfeites noturnos comparável a Paris. Alguns prédios merecem destaque.
Vejam, por exemplo, como ficou lindo o Teatro Marinsky, antigo Kirov, sede do famoso ballet que todos conhecem e que está vindo por aqui.


E um prédio do governo ao lado do teatro.

Já falei aqui que São Petersburgo foi planejada e construída sobre 42 ilhas, todas ligadas ao continente por dezenas e dezenas de pontes, muitas delas levadiças. As mais bonitas, algumas lindamente trabalhadas em ferro, outras em madeira e ouro e outros metais,  estão localizadas sobre o Rio Neva, que liga o lago Latoga, o maior da Europa ao mar Báltico, que se abre a partir do Golfo da Finlândia. Essas pontes sobre o Rio Neva se levantam todos os dias a l.30h da madrugada, para que grandes navios cargueiros provenientes do interior da Russia, possam atingir o mar, passando pelo rio. É claro que ficamos para ver a abertura da mais bonita e também a ponte mias importante, que liga o continente à maior ilha. Vejam-na fechada.

E agora aberta.

Muito interessante e muito diferente de tudo o que temos por aqui. A Rússia é realmente um país que merece ser visitado. Infelizmente nossa viagem estava chegando ao fim e no último episódio russo, vou contar para vocês o "sufoco" que passamos no aeroporto de São Petersburgo no dia do embarque para Paris.

terça-feira, 19 de julho de 2011

"Versailles" Russos

Falo no plural porque os palácios visitados - a residência de verão de Catarina II, a Grande, em Pushkin que fica a 25km de São Petersburgo e os jardins do palácio de verão de Pedro, o Grande, à beira do Golfo da Finlândia, no mar Báltico -  são simplesmente esplendorosos, tão ou mais deslumbrantes do que o Palácio de Versailles, perto de Paris, conhecido de todos. É de cair o queixo a visão de tanto ouro, tanto luxo para uma só pessoa, apenas em uma residência, sem contar as outras. As palavras são insuficientes. Vou mostrar as fotos. Por fora,

E por dentro,



Gostaram? Isso é só uma amostra. Difícil mesmo é descrever nosso deslumbramento.
Agora, uma pequena amostra das ricas fontes e belíssimos jardins do palácio de verão de Pedro, o Grande, à beira do Báltico. Vejam.



Sem contar a emoção de saber que estávamos no mar Báltico, tão somente a 200 km da Finlândia - que distância desse nosso longínquo Brasil.
No próximo post, a excursão noturna por São Petersburgo com a abertura das pontes levadiças. Lindo. Não percam.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Um incidente em São Petersburgo

Deixadas no centro comercial de São Petersburgo, Maria Lucia, Celia e eu, após darmos uma olhada por fora, na linda Igreja do Sangue Derramado, - vejam -


entramos em um Shopping composto por um hotel 5 estrelas e várias lojas de grife, tais como Tiffanys, Chanel, Gucci e outras. Além da vontade de conhecer esse luxuoso lugar, estávamos atrás de um bom banheiro. Logo na entrada, havia uma máquina ATM, com aparência de nova e moderna, mas tudo escrito em russo. Celia, com  intenção de fazer compras, resolveu sacar alguns rublos, moeda local. Colocou o cartão de débito na máquina, digitou a quantia, a senha, esperamos e nada..., nem dinheiro nem o cartão de volta. Apertamos diversos botões, alguns trancos, mas sem sucesso. O que fazer em um lugar onde só se fala russo? Meu coração acelerou, mas Celia estava incrivelmente calma. Como você consegue ficar tão calma, perguntei-lhe. Ah, tenho outro cartão, respondeu-me. Aí fiquei sabendo que o Banco do Brasil dava sempre dois cartões de débito a cada cliente, para prevenir eventos como esse. De qualquer forma, não podíamos deixar o cartão dentro da máquina porque poderia ser usado indevidamente por outra pessoa. Na Europa é comum a compra sem o uso da senha.
Ao me acalmar, lembrei-me que estávamos em um hotel 5 estrelas e teoricamente os empregados deveriam falar inglês. Dirigi-me ao bar ao lado, decoração luxuosa em madeira escura e localizei um rapaz jovem que parecia ser o gerente. A princípio, ele disse que nada poderia fazer mas foi indo em direção à máquina ATM. Pelo celular ligou para o número ali fixado e falou durante uns 5 minutos, em russo, tentando ao mesmo tempo fazer a máquina funcionar. Mas em vão. Disse-nos então que a companhia só viria no dia seguinte para abrir a engenhoca e que deveríamos ligar para o banco e bloquear o cartão.
Após agradecer-lhe, procurei o hall de entrada do hotel e perguntei a um jovem recepcionista onde encontraríamos cartão telefônico que ligasse para o Brasil. O jovem, muito educado, disse-nos que poderíamos fazer a ligação do business center do hotel, que ficava logo ao lado. Ao entrar no business center, encontramos uma mocinha muito bonita, mas com cara de assustada. Ao ser indagada "do you speak english?" ficou mais assustada ainda, mas disse que sim. Expliquei-lhe então que precisaríamos ligar para o banco do Brasil, no Brasil, para bloquear um cartão de débito que ficara preso na máquina ATM. A ligação por minuto ficava bem cara - logico era um hotel 5 estrelas - mas o que fazer, era necessária. Ela fez a chamada e Celia conseguiu, com sucesso, bloquear o cartão preso na máquina. Maria Lucia também reclamou que seu cartão não funcionava e a atendente do banco fez lá uns procedimentos.
Enquanto elas falavam ao telefone,  puxei conversa com a mocinha assustada, contei-lhe nossas aventuras, perguntei-lhe onde era a toilette - nessas alturas tínhamos até esquecido -, disse-lhe que as moças russas eram muito bonitas e simpáticas e ela foi relaxando, até sorriu um pouco. Ao final do telefonema, mais ou menos uns 10 minutos, perguntei-lhe quanto era. Ela fez um gesto de nada e pos a mão nos lábios em sinal de silêncio, sorrindo. Ou seja, conseguimos fazer uma chamada internacional de um hotel 5 estrelas... sem pagar nada. Agradecemos muito e saímos.
Um traço do povo russo, já tinha notado. Rude e zangado na aparência, mas muito solidário e emocional no íntimo.  Qualquer agrado o comove e se você estiver em apuros, ele se desdobra para ajudar, mesmo com a dificuldade de comunicação. O contato pessoal com povos estranhos e desconhecidos para nós é realmente  emocionante.
A seguir, tomamos um bom capuccino para relaxar do stress, fizemos algumas compritas e voltamos para o navio, porque ao escurecer - isso lá pela uma hora da manhã - faríamos uma excursão noturna para ver a abertura das pontes. Mas isso é uma outra história...

sábado, 9 de julho de 2011

São Petersburgo e o Hermitage

Após o rápido lanche no ônibus mesmo, para não perder tempo, rumamos com Dmitri para o Museu Hermitage, o segundo maior da Europa depois do Louvre. Ele é composto de vários palacetes interligados, na cor verde, o principal deles foi o palácio de inverno dos czares até a queda da monarquia russa. Possui hoje um acervo de mais de tres milhões de peças, núcleo iniciado pela czarina Catarina, a Grande, no século XVIII. A suntuosidade do paládio de inverno é difícil de descrever. De início, depara-se com um vestíbulo seguido de escadaria e colunas de mármore com trabalhos em ouro e pinturas magníficas no teto.

O Palácio de Inverno


Subindo as escadarias, entramos em salões imensos cada um mais lindo que o outro. Todos com obras de arte deslumbrantes, lustres em cristal e ouro magníficos.


Visitamos alguns cômodos que integravam o antigo palácio de inverno, tais como as dependências da czarina, a igreja, a sala do trono, esplêndidos.



Catarina a Grande teve inclusive o capricho de mandar fazer uma réplica do salão dos espelhos existente em Versailles, só que em forma de galeria e tão lindo quanto.


Tiveram uma tênue idéia do que vimos? Bem, após o Hermitage, onde permanecemos por aproximadamente duas horas, descemos em uma praça bem no centro comercial de São Petersburgo, onde poderíamos ficar por mais umas duas horas para passeios e compras nos arredores. Os cansados voltaram para o navio, mas Celia, Maria Lucia e eu ficamos para explorar a região. Ali bem perto, além da magnífica Igreja do Sangue Derramado, havia um shopping center de luxo, com lojas de grife, como Tiffanys, Chanel, Gucci, etc e um hotel cinco estrelas. Foi justamente nesse shopping que aconteceu um incidente com Celia, que relatarei no próximo post. Não percam.

 

A propósito da Revolução de 1932

Aos amigos leitores que acompanham a nossa saga russa, devo fazer um "break" para algumas considerações a comentários que ouvi ontem na Rádio BandnewsFM, no jornal da manhã comandado por Ricardo Boechat, em que o analista das sextas-feiras, Alberto Almeida, "O Desavisado" (cognome inventado por mim obviamente) declarou que São Paulo era o único lugar no mundo a comemorar, inclusive com feriado local, uma data de derrotas, 9 de julho que marcou o início da Revolução Constitucionalista de 1932.
Chamo-o de desavisado, uma gentileza minha, porque, como demonstrarei a seguir, a Revolução Constitucionalista de 1932 não foi um evento de derrotas mas sim de muitas conquistas democráticas para São Paulo e para o Brasil. Senão vejamos.
A Revolução de 1930 que trouxe ao poder federal Getúlio Vargas, ao extinguir a Constituição de 1891, limitou a autonomia dos estados, que era enorme na época, destituiu seu presidente - nome dado ao governador - e foi nomeado por Vargas um interventor de fora para governar São Paulo. Como disse, a autonomia dos estados na época era muito grande e a nomeação de um não paulista como autoridade máxima provocou enorme insatisfação nas elites dominantes. Insatisfação aliada à constatação de que Vargas governava com enormes poderes ditatoriais, sem lei e sem constituição que fora revogada. Movimentos populares, pedindo uma nova constituição, começaram em 1932, liderados principalmente pelos estudantes de direito da Faculdade do Largo de São Francisco, até que em maio desse ano, em meio a uma gigantesca manifestação pública contra o ditador, forças federais mataram quatro estudantes de direito, Martins, Miragaia, Drausio e Camargo. Nascia assim o movimento MMDC que culminou, no dia 9 de julho, na luta armada visando à destituição do caudilho Vargas. Os paulistas contavam, a princípio, com o apoio de Mato Grosso, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, mas no início do movimento armado Minas Gerais e Rio Grande do Sul recuaram e só Mato Grosso permaneceu fiel. Obviamente as forças estaduais, compostas, além de militares das Forças Públicas, por jovens estudantes universitários e mesmo adolescentes secundaristas que se engajaram no movimento, foram cruelmente trucidadas pelas tropas federais em cerca de tres meses de luta.
Mas o objetivo primordial da Revolução Constitucionalista de 1932, como o nome mesmo diz, foi alcançado. O ditador Vargas nomeou um interventor paulista, Pedro de Toledo, e foi obrigado a convocar uma Assembléia Nacional Constituinte que elaborou e promulgou a Constituição Federal de 1934, uma das mais democráticas e bem elaboradas constituições brasileiras. Mas, infelizmente isso durou pouco, porque o ditador não gostava de se submeter a leis e tudo acabou com o golpe institucional de 1937.
Como se vê, São Paulo não comemora derrotas no dia 9 de julho, como disse o desavisado Antonio Almeida, comentarista da BandNewsFM. Presta homenagem aos heróis, grande parte deles muito jovens, que perderam a vida em prol da luta democrática que ocorre neste país há dezenas de anos.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Finalmente São Petersburgo

Chegamos a São Petersburgo pela manhã e assim que o navio atracou, saímos com Dmitri para visitar a fortaleza de São Pedro e São Paulo. A propósito dessa fortaleza, ela foi a primeira construção de tijolo e pedra da cidade, fundada pelo tsar Pedro, o Grande em 1703 às margens do Rio Neva, na entrada do Golfo da Finlândia, no mar Baltico. Em homenagem a São Pedro e também a si prório, penso eu, Pedro o Grande deu seu nome à cidade que pretendia tornar a capital do império russo.
São Petersburgo é uma cidade planejada e construída sobre 42 ilhas, todas interligadas por dezenas de pontes e mais o continente. Grande parte dessas pontes são levadiças, possibilitando a passagem de grandes cargueiros que trazem mercadorias do interior do país, por rio, em direção ao mar. Foi capital da Rússia por mais de 200 anos até 1918, quando os líderes da revolução bolchevique decidiram transferir a capital para Moscou.
É uma maravilha, lotada de palácios, cada um mais lindo que o outro, principalmente os localizados nas avenidas marginais do rio Neva. O dia estava escuro, ameaçando chuva e muito frio, um vento gelado que penetrava em qualquer agasalho brasileiro. Quando chegamos à fortaleza de São Pedro e São Paulo, despencou uma chuva forte e gelada que nos deixou ensopados até conseguirmos entrar na principal igreja do complexo.
Essa igreja, toda trabalhada em ouro por dentro, abriga túmulos de inúmeros czares, suas esposas e filhos, inclusive os últimos Romanovs, a família de Nicolau II, trucidada pela revolução de 1917. Eles estão enterrados em uma capela dentro da igreja, mas separada dos outros, porque hoje são considerados mártires. Vejam a foto de alguns túmulos.


E também do altar da capela dos Romanovs.



Ao sairmos da igreja, o tempo havia melhorado, inclusive com um pouquinho de céu azul. Mas o frio ainda era intenso. Continuamos o nosso passeio pela cidade, visitando alguns monumentos e igrejas, mas só por fora. Vejam a foto de uma avenida com lindos palacetes.Isso é só uma pequena amostra da magnífica São Petersburgo.


A seguir, Dmitri nos levou a uma grande loja de souvenirs, cheia de objetos criativos para todos os gostos. Uma festa de compras para todos. Lá comprei, entre outras lembranças como chaveiros, bonequinhas russas, ímãs de geladeira, réplica, em tamanho natural, de um ovo Fabergé, azul e dourado, lindíssimo. Ao abri-lo, depara-se com um palácio dourado preso em um pedestal central, por ímã. Um tanto caro mas esplêndido e único. Por aqui não existe.
Tomamos um lanche no ônibus mesmo, já que era hora do almoço e não havia tempo para voltar ao navio, que estava bem distante. Após o lanche fomos visitar o Museu Hermitage, o segundo maior da Europa, depois do Louvre de Paris. Mas isso será objeto de outro post. Não percam.

domingo, 26 de junho de 2011

Goritzy, Ilha de Kizhi, Mandrogui

Chegamos pela manhã a Goritzy e como não poderia ser de outro modo, a primeira coisa vista quando deixamos o navio foi a feirinha de barracas, principalmente com vestimentas de pele, especialidade do lugar. Chapéus de todo o tipo, cachecóis, casacos femininos e masculinos, coletes, enfim todo o imaginário em pele, coisas lindas mas caras. Com o ônibus e Dmitri, partimos para o Mosteiro de São Cirillo, a 7 km do cais.
Cirillo, monge que viveu no século IX, foi um grande propagador da religião ortodoxa e criou um alfabeto que se adaptava, na época, às linguas eslavas faladas na região, o alfabeto assim chamado cirílico em sua homenagem e vigente até hoje na língua russa. Diz-se que ao caminhar pela região onde hoje está o mosteiro, teve uma visão da Virgem Maria que lhe ordenou que construísse uma igreja. Ergueu então ali uma modesta construção que, no século XIV, alguns séculos depois de sua morte deu origem ao mosteiro de São Cirillo. Vejam a foto externa. Essa é apenas uma pequena parte. Ele é imenso.


Em um dos edifícios do mosteiro que visitamos, uma espécie de museu com belíssimas pinturas e afrescos, havia um quadro da Virgem Maria com o menino Jesus, o mais lindo que já vi em toda a minha vida. Tentei conseguir uma réplica na loja do mosteiro, sem sucesso. E também não pude tirar foto porque era proibido fotografar as pinturas. Mas era uma lindeza e me deixou emocionada. Voltamos ao navio passando antes por uma sessão de compras na feirinha.
Seguimos para a ilha de Kizhi, situada no lago Onega, o segundo maior da Europa. Essa ilha está situada a 500 km do Círculo Polar Ártico - imaginem só o frio, um horror. Lá existem construções de madeira tombadas pela Unesco, a maior delas, a Igreja da Transfiguração, construída com toras de pinheiro encaixadas em sentido horizontal, sem pregos ou parafusos. Realmente impressionante. Vejam.


A igreja menor, da Intercessão, que visitamos possui belos ícones, esses sim pude fotografar. Ícones são as pinturas em parede existentes nas igrejas ortodoxas. Vejam um exemplo.


Após Kizhi, rumamos para Mândrogui, um lugarzinho meio inóspito, com algumas construções em madeira e onde foi-nos servido um churrasco russo - carne de porco, de frango ou vegetais na brasa, à sua escolha - com muita vodka, vinho e música.


Bem, foi tudo o que se viu pelo interior da Rússia. Ainda no navio, tivemos um jantar temático, todos vestidos de pirata, muito animado e também a festa de despedida, com apresentação de canto e dança de brasileiros, franceses, espanhóis e dinamarqueses. A seguir, o ponto final do passeio e a cidade mais linda de todas, São Petersburgo.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Caminho para São Petersburgo - As Eclusas e as Atividades no Navio

Nunca tinha passado por uma eclusa nem mesmo visto alguma. Elas estão no Canal de Panamá, no Canal de Suez e até mesmo no rio Tietê, em Barra Bonita. Mas como nunca estive em nenhum desses lugares, não sabia qual era a sensação. Pois bem, de Moscou a São Petersburgo, atravessando alguns rios e lagos, existem 17 eclusas, tanto para subir como para descer. A eclusa é um elevador, com portões que se abrem para o navio entrar, um de cada vez, porque o espaço é apertado. Quando o navio entra os portões se fecham e a embarcação fica ali encaixada. Se o desnível do rio é para baixo, o elevador vai descendo conforme a água vai saindo por comportas. Chegando no nivel baixo, as portas da frente da eclusa se abrem e o navio sai, seguindo seu curso normal. Se ao contrário, o desnível do rio for para cima, o elevador sobe com a entrada da água pelas comportas que vão enchendo o espaço. Quando chega no nível mais alto, as portas da frente se abrem e o navio sai. No começo, é bem curioso e diferente, mas depois da quarta ou quinta não desperta mais curiosidade porque todas são iguais.
Dentre as atividades de que participei, as mais interessantes foram a aula de língua russa, com o aprendizado do alfabeto cirílico, cheio de letras, símbolos e números e também de algumas expressões usadas no quotidiano, tais como "spassíba" (obrigada), "dobre utra" (bom dia), "priviét" (olá) e outras. Esclareça-se que esse é o jeito da pronúncia, mas a escrita é completamente diferente. Dificílimo para nós latinos.
Outra atividade interessante foram as aulas de história da Rússia ministradas por Dasha, uma das guias de menos de 30 anos, altamente politizada e corajosa. Destemida, fazia críticas abertas aos regimes totalitários através dos quais se desenvolveu a história russa, desde o czarismo, praticamente feudal e escravocrata, passando pela revolução bolchevique de 1917, que trouxe a industrialização, o progresso, fez da Rússia uma potência mundial. Mas a custa da liberdade do povo e de milhões de vidas sacrificadas, principalmente na época de Stalin. Até o momento presente, insatisfatório sobretudo para os jovens. A perestroika, tão ansiosamente aguardada pelo povo russo, foi violenta e sacrificou a vida de muitos para quase nada. O regime permanece totalitário, sob o comando de um só homem. Há uma pequena elite bilhardária que enriqueceu adquirindo empresas estatais a preço de banana na época das privatizações, enquanto a grande massa popular continua pobre e luta com dificuldade. Em compensação, o ensino é de primeira, gratuito, as universidades, de muito boa qualidade, formam bons profissionais que nem sempre conseguem empregos adequados porque a moeda vale pouco e os salários são baixos. Um rublo, a moeda circulante, vale R$ 0,06 de real, mas o custo de vida não é barato. O sistema de saúde é bom, setorizado por regiões, com médicos de família e consultas sem grande espera.
No próximo post, a visita ao mosteiro de São Cirillo.

terça-feira, 21 de junho de 2011

A noite do medo e Yaroslavl

Partindo de Uglich e após o jantar, tivemos a nossa costumeira sessão de canto, regida por Maria Lucia e fomos dormir em torno de meia-noite. Por volta de 3 horas da manhã acordei assustada com uma forte batida do navio em algo, seguido de um sacolejo. O que é isso? perguntou-me a também assustada Angelica. Não sei, respondi, mas vou saber. O apito de emergência para salvamento não soou e o barco não parou após a batida, apesar de ter diminuído a velocidade. Minha cabine ficava perto do hall de entrada e para lá me dirigi, juntamente com outras pessoas que tinham acordado, mas ninguém sabia de nada. Alguns marinheiros passavam apressados sem dar informações, até que um deles disse ao dono da agência promotora da excursão e que falava russo, que o navio havia batido em um tronco sem ocorrência de maiores danos, a não ser estragos na pintura. Todos poderiam voltar às cabines porque tudo estava em ordem. Assim fizemos, com alguma desconfiança. Seria verdade?  O resto da curta noite - amanhecia em torno de 4.30h e anoitecia por volta das 23h - foi insone e com medo. O fato é que nunca tivemos uma informação precisa do ocorrido. Todas as respostas eram evasivas, inclusive a do capitão do navio.
Chegamos a Yaroslavl ainda pela manhã, atualmente uma cidade média com pouco mais de 500.000 habitantes, mas que abrigou grande parte da nobreza russa por ocasião da invasão de Napoleão a Moscou. Demos uma volta de ônibus pelo centro, com nosso guia Dmitri, parando em um mirante à beira do rio Volga para apreciar a linda paisagem.


Em seguida visitamos o palácio do antigo governador que hoje é um museu histórico da região. Fomos recebidos por moças vestidas a caráter que nos guiou, uma delas,pelo espaço, com esplêndidos salões ricamente mobiliados, belos quadros e magníficos objetos de arte. Por fim, entramos no salão de baile onde presenciamos uma amostra das grandes festas da época. As guias, como disse, vestidas a caráter, dançaram o minueto e depois a valsa, tudo ao som de um conjunto de senhoras que tocavam violino, violoncelo e piano. Muito bonito e diferente.


Após o museu passeamos por um belo e grande jardim, onde se situava uma das mais importantes igrejas da cidade e também fomos a um mercado aberto, parecido com os que temos por aqui. Na saída do mercado e já no ônibus para voltar ao navio, um incidente. Faltava uma pessoa, a Giselda, uma carioca baixinha e gordinha. Dmitri, nervoso, voltou ao mercado e procurou por ela em todos os outros ônibus. E nada. Não podíamos esperar mais porque o navio partiria. Voltamos ao barco, todos preocupados e lá soubemos que o pessoal de outro navio que sairia duas horas depois do nosso, havia encontrado a Giselda, meio perdida no centro da cidade. E que ela embarcaria nesse outro navio para encontrar-nos na próxima parada. Dmitri respirou aliviado e não perdeu a Giselda de vista pelo resto da viagem. Quando ela retornou a nosso navio e entrou no restaurante na hora do almoço, recebeu uma grande salva de palmas.
Próxima parada, Goritsy e o Mosteiro de São Cirilo.

domingo, 19 de junho de 2011

Navegando para Uglich

No segundo dia de navegação, logo pela manhã, tivemos um exercício de salvamento. A um apito estridente, colocamos um colete salvavidas, laranja berrante que estava nas cabines e subimos para o deck superior, tudo no mínimo espaço de tempo possível. A reunião no deck era só para fotos e filmagem, todo mundo laranjinha.
Algumas considerações sobre o navio. Na verdade era um grande barco com cabines, relativamente confortáveis, dois bares na proa, em andares diferentes, dois restaurantes, um bem grande que servia os brasileiros, e outro, menor, no andar de cima, para franceses, espanhóis e dinamarqueses. Havia também um salão de festa no último andar e o deck de popa onde apreciávamos a paisagem em lindos dias de sol. A diversão era pouca. Uma cantora jovem e bonita, com um corpão e pouca voz,  a despertar os olhares cobiçosos dos "veinho". Um conjunto folclórico de tres pessoas, razoável, o único excelente era o rapaz instrumentista da balalaika, jovem que deu show com o instrumento. À noite, na discoteca, colocavam aquela música martelante -tum tum tum tum tum - que ninguém aguentava. Então nos reuníamos, muitas mulheres e poucos homens que gostavam de cantar, sob a regência da Maria Lucia, que tinha uma bela voz e fazia parte de um conjunto de seresta em Belo Horizonte. Assim, aproveitamos esse período de navegação para por o sono em dia, porque desde o dia da chegada havíamos dormido quase nada, sem se falar do efeito jetlag por causa das sete horas de diferença no fuso horário.
Por volta da hora do almoço, chegamos a Uglich, pequena cidade com muita história.
Descemos do navio com nosso novo guia Dmitri e fomos caminhando por uma grande feira de artesanato, colírio para os olhos, mas que ficaria para o final da visita, disse Dmitri. Uglich surgiu à beira do rio Volga, por onde navegávamos, no final do século X e foi palco de uma tragédia entre tantas ocorridas na Rússia. |Lá foi assassinado, no século XVI,  o filho mais novo, com apenas 10 anos de idade, do tzar Ivan o Terrível. Como ele era o último representante da dinastia Rurik que reinou na Rússia até então, após sangrentas lutas pelo poder, foi nomeado um Romanov como czar, por um conselho de nobres. Os Romanov reinaram até serem dizimados pela revolução bolchevique em 1917. A criança assassinada foi canonizada, no ritual ortodoxo, claro, e no local de seu assassinato foi construída uma pequena e linda igreja, Dmitry (era o nome dele) no Sangue. Vejam.


Após, fomos à Igreja da Transfiguração, maior, onde fomos recebidos por um coral, composto de quatro jovens cantores excepcionais, todos homens, uma maravilha, eles brincavam com os variados tons de voz. Dava vontade de nunca mais parar de ouvi-los.


Como se vê pelas fotos, esses momumentos ficavam numa imensa área verde por onde passeamos bastante, sempre com Dmitri, nosso guia, a nos relatar os acontecimentos históricos ali ocorridos. Por fim, para alegria de todos, retornamos à feira de artesanato, passando antes por uma loja de relógios fabricados no local e objetos pintados a mão, lindíssimos. Nessa feira, encontrei, em meio a matriochkas, roupas típicas e souvenirs de todo tipo, aquele chapéu de pelo grosso com orelhas, típico da Rússia e que tinha sido encomendado por Gregory, um de meus genros. Um luxo o chapéu. Celia, então fez a festa, comprou até não poder mais, presentes para todos... e para ela também, claro. Como uma ativista de esquerda consegue ser tão consumista, perguntei-lhe brincando. Ah, devemos sempre tirar proveito do regime vigente, respondeu-me. Voltamos ao navio, carregadas de sacolas para almoçar e prosseguir para a próxima cidade, Yaroslavl.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Moscou - Segundo Dia

Ufa, o primeiro dia foi tão intenso que parecia estarmos em Moscou há muitos dias. Mas foi só um, muito bem aproveitado. O segundo dia, pela manhã, foi livre e saímos bem cedo do barco em direção à Praça Vermelha. Eu queria olhar as lojas e fazer umas comprinhas. Celia estava louca para visitar o mausoléu de Lenin. Tentaria de novo.
Quando lá chegamos, nos separamos e cada uma seguiu sua direção. Em Moscou há vários shoppings centers subterrâneos, muito provavelmente por causa do frio insuportável. Por baixo da Praça Vemelha, há um deles com mais de tres andares subterrâneos - só andei por dois, não deu tempo de ver mais. Era tão imenso que chegou uma hora em que pensei estar perdida, não sabia por onde havia entrado. Parei, respirei profundamente e tentei me localizar. Pedir informação, sem chance. O pessoal só fala russo. Nas lojas, quando vc pergunta "do you speak english?", todas as vendedoras saem correndo para chamar a única que fala "a little" - mas muito "little" mesmo. Apesar da dificuldade de comunicação, consegui comprar algumas "cositas" interessantes e baratas. A seguir, a foto de um café nesse shopping. Vejam que delícia é o alfabeto russo para nossa compreensão e reparem na bela escultura à frente do café. Ha diversas esculturas e lindos lustres espalhados por todo o espaço.


No horário marcado pela guia, nos encontramos em frente à Praça para voltar ao navio, que sairia proximamente. Celia estava triste, o mausoléu de Lenin continuava fechado para visita. Ela até tentou entrar mas topou com os olhares ferozes dos guardas. Desistiu. Mas em compensação, comprou lindos objetos artesanais numa feirinha ali perto. Miniaturas de ovos Fabergé, matriochkas, recipientes para vodka com emblemas do tempo soviético e outros. Tudo bem barato.
Durante o almoço, o navio saiu, navegando por um canal estreito e passando por esplêndidas residências localizadas de ambos os lados do rio, as famosas "dachas", casas de campo dos russos endinheirados. Fomos ao deck superior para apreciar a paisagem, uma vez que o dia estava belíssimo, com sol e céu azul, apesar de um pouco frio.


Mais à tarde, no mesmo deck, o capitão do navio e toda a tripulação nos foram formalmente apresentados, com um brinde de champagne e um pequeno show folclórico. No dia seguinte, pela manhã haveria um treino de salvamento, antes de chegarmos à primeira cidade a ser visitada, Uglich.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Moscou à noite

Antes de sairmos para a excursão noturna, um parêntese, nenhuma notícia de minha mala extraviada. Comecei a me preocupar porque no dia seguinte iríamos partir. Sorte que nessas horas sobra solidariedade. Celia cedeu-me seu desodorante, Maria Lucia que possuia uma farmácia ambulante me deu alguns remédios, Angelica colocou seus objetos de uso pessoal à minha disposição. Ainda bem que escova de dentes e pasta dental estavam na bolsa de mão e não foram perdidas.
Enfim partimos para ver Moscou à noite. Uma beleza, tudo iluminado, compete com Paris, é mais bonita de noite do que de dia. Primeiramente, passamos por um conjunto de fontes luminosas em meio a lindo jardim de tulipas. As cores iam mudando conforme a dança das águas.


Em seguida visitamos os jardins onde fica o lago dos cisnes, justamente o lugar que inspirou Tchaikowsky a compor a linda música do famoso ballet. A construção em meio ao magnífico jardim e lago é um convento medieval para onde foram mandadas várias esposas de czares russos. Pois é, quando o czar enjoava da mulher e se apaixonava por outra, mandava a esposa para o convento onde ela permanecia até a morte. Assim, ele ficava livre para casar de novo, tantas vezes quantas quisesse. Nunca foi fácil ser mulher, muito menos na época medieval. Em compensação, a Rússia teve Catarina, a Grande, a maior czarina de todos os tempos e que mandou matar o marido, Pedro III, quando soube que ele a mandaria para o convento para poder casar-se com outra. Legítima defesa, diriam alguns advogados.
A próxima parada, após passarmos por inúmeras ruas cheias de luzes e de gente, principalmente a rua Arbat, aquela que ferve à noite, foi na Praça Vermelha, onde começaríamos a visitar estações do metro. O frio intenso foi barrado pelo forte aquecimento ao entrarmos na primeira estação.
O metro de Moscou foi iniciado na época de Stalin, a partir de 1930 e suas grandiosas estações, principalmente as construídas entre 1930 e 1950,  com muito mármore, belas esculturas, mosaicos coloridos entremeados com fios de ouro, pinturas, celebram o poder do povo e a revolução bolchevique. Visitamos quatro estações, todas contendo um grande corredor central, como se fosse um salão ricamente ornamentado, com os trens passando dos dois lados. É de cair o queixo.
As estações são muito profundas, com imensas escadas rolantes e serviram algumas de abrigo ao povo por ocasião dos intensos bombardeios na 2a. Guerra Mundial. São ao todo, hoje, quase 300 km de linhas, uma delas funciona como um ferroanel, em círculo sobre a parte central da cidade. Passeio imperdível para quem vai a Moscou.






Dá para ter uma idéia não? Após esse passeio, já de madrugada, voltamos para o barco e surprise..., minha mala fora entregue, estava na cabine, intacta. Que alívio.
A manhã seguinte seria livre para compras e à tarde partiríamos em direção a São Petersburgo.

terça-feira, 14 de junho de 2011

O Kremlin

Kremlin que quer dizer fortaleza é um espaço enorme constituído de edifícios governamentais, inclusive o palacio do presidente da República, lindo, com telhado verde, mas que não se pode visitar. Museus, monumentos de toda a espécie e muitas igrejas. Na portal de entrada, após uma fila razoável, passamos por detector de metais e pelos olhares ferozes e invasivos dos guardas do Kremlin.
Pelo longo caminho a percorrer, encontramos monstruosos canhão e sino. Na Rússia, tudo é maior do mundo - mesmo que não seja. O canhão, de tão gigantesco e pesado - a respectiva bala deve ter aproximadamente um metro de diâmetro - nunca pode ser usado. Então foi colocado em exposição no Kremlin. Já o sino, equivalente a uma casa de dois andares, nunca pode ser erguido ou colocado em qualquer torre, pelo peso e tamanho. Ficou no chão, para deleite dos turistas.
Enfim chegamos à área das igrejas, ortodoxas, a principal delas que visitamos, a Igreja da Anunciação, onde foi coroado o famoso czar Ivan, o Terrível no século XVI e a partir do século XVIII, todos os imperadores russos foram coroados nessa igreja.



Um parêntese. A religião ortodoxa é semelhante à católica, porém independente do papa. No interior das igrejas não há bancos porque os fiéis devem assistir ao longo ritual em pé, não podem sentar-se. Nem mesmo os czares e família se sentavam, embora ficassem em um nicho à parte do povo. Não há imagens, somente quadros e pinturas representando Nossa Senhora, Jesus e os santos, quase todos nossos desconhecidos, tais como São Basilio, São Cirillo e outros.
Ao sair da deslumbrante Catedral da Anunciação, ficamos sabendo que havia uma exposição de obras de Fabergé, inclusive alguns dos famosos ovos,  em um museu bem perto da igreja. Como fazer para entrar? Julia, nossa guia, se dispôs a comprar os ingressos, mediante o pagamento de 300 rublos por parte de cada interessado. Assim foi feito.
Segundo parêntese. Os ovos produzidos por Peter Carl Fabergé e seus ourives, conhecidos como ovos Fabergé, são preciosas jóias, presente dos czares Alexandre III e Nicolau II para suas esposas por ocasião da Páscoa. Por fora são ovos de ouro, platina, brilhantes e outras pedras, mas se abrem e em cada interior há uma ourivesaria diferente, um castelo, uma carruagem, um animal, uma árvore de natal.  São jóias deslumbrantes que nos deixaram de queixo caído. Dos dez ovos que existem na Rússia, vimos cinco deles - não há um igual ao outro - e ainda diversas outras obras do famoso ourives, tais como colares, anéis, relógios de pulso e de mesa, pratos trabalhados.



Enfim uma exposição de sonho, inesquecível, após o que voltamos para o navio, para jantar. Haveria ainda uma excursão de Moscou à noite, com visita a estações do metrô. O que relatarei na próxima.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A Impactante Praça Vermelha

Tudo é vermelho na Rússia, mesmo antes do regime soviético. A cor vermelha, segundo me lembro, está relacionada ao sucesso, à vitória, à hegemonia. A praça é vermelha, a bandeira soviética era vermelha, o exército soviético era o exército vermelho e até hoje a bandeira russa é branca, vermelha e azul.
Pois bem. A Praça Vermelha é algo difícil de descrever de tão grandiosa que é. Logo na entrada, ao lado do portal, cuja foto está no post anterior, há um enorme edifício vermelho que abriga o Museu Histórico. Magnífico.



Do lado esquerdo de quem entra, encontramos uma pequena igreja ortodoxa, um primor, por fora e por dentro. A seguir, uma enorme e linda construção de época que abriga um shopping center de luxo, com inúmeras grifes francesas, inglesas, americanas e outras. À direita, saindo do lado do Museu Histórico, está a grande muralha do Kremlin, fortaleza em russo, também vermelha. Caminhando um pouco ao longo da muralha, nos deparamos com o mausoléu de Vladimir Lenin, uma grande construção em mármore negro, meio em forma de pirâmide. Celia, como já disse, uma idealista e aguerrida ativista de esquerda, ficou emocionada. Queria visitar o túmulo a qualquer preço, mas justo nesse dia, ele estava fechado à visitação porque dois dias antes, em 9/5, houvera a comemoração da vitória na 2a. Guerra Mundial com desfile militar e homenagens no túmulo. Ficou muito frustrada, mas tentaria no dia seguinte.
Lenin, um dos grandes líderes da revolução bolchevique de 1917, está embalsamado nesse mausoléu e segundo nossa guia Julia, existe um staff próprio para cuidar do túmulo e dele, pois suas unhas crescem e devem cortadas, sua barba e cabelo também crescem e devem ser aparados. Despesas substanciais e cuidados com um morto enquanto milhares de vivos passam necessidade, diz nossa irônica guia Julia. Pelo que pude perceber, os jovens russos desaprovam tais vultosas despesas.
Por fim ao fundo da enorme praça, encontramos a catedral ortodoxa de São Basílio, toda colorida e maravilhosa.


Passamos grande parte da manhã na Praça Vermelha, explorando seus recantos. Perto da hora do almoço os guias reuniram os grupos para prosseguir no tour. Quase perdemos a nossa, Julia, que saira a jato - os russos são pontualíssimos e muito apressadinhos - enquanto estávamos no shopping à procura da toilette. Graças a Anastasía, aquela que nos fora esperar no aeroporto e que ficou conosco o tempo todo, conseguimos encontrar o resto do grupo e o ônibus. Prosseguindo no tour, passamos pela principal universidade pública de Moscou, cujo prédio principal era muito lindo. Em frente à universidade, paramos num mirante, com visão de boa parte da cidade e muitos camelôs, inclusive chineses falando russo e vendendo souvenirs. Eles estão por toda a parte.
Chegara a hora do almoço que, segundo a irônica Julia, aconteceria em um restaurante "tipicamente russo", o Hard Rock Cafe, almoço por sinal de péssima qualidade. Mas em compensação, o lugar ficava em calçadão - a Rua Arbat - pelo qual caminhamos bastante, com vários cafés e restaurantes, alguns típicos em toda a extensão. Uma graça. Pelo que soube, a região tem agitada vida noturna. Ferve à noite.
Agora, chegara a vez de visitar o Kremlin, capítulo à parte.





domingo, 12 de junho de 2011

Moscou - Primeiro Dia

O despertar ocorreu às 6.30h - tínhamos dormido pouco mais de uma hora - com passarinhos cantando e uma musiquinha suave. Cute. Após o café, fomos procurar nosso ônibus para sairmos em citytour. Lá fora havia uns dez ônibus, cada um com  lista de passageiros e um guia.
Um parêntese. A composição do navio era de cerca de 80% de brasileiros. Os outros 20% estavam divididos entre franceses, espanhois e dinamarqueses. Portanto, havia vários guias falando português, até muito bem, uma falando francês, outra espanhol e outra inglês.
Localizado nosso ônibus com a guia Julia, partimos para o centro da cidade, longe e com um trânsito caótico. No percurso Julia foi discorrendo sobre os estilos de construção, principalmente dos grandes prédios residenciais, todos de cor cinza, marron ou mais escuro, absolutamente iguais, com muitos apartamentos. Esse era o padrão vigorante no regime comunista, quase todos da época de Stalin, muito bem construídos, com unidades grandes e confortáveis, mas sem qualquer estilo arquitetônico. Raramente se via uma construção mais moderna, com vidros e cores, como temos por aqui. Assim as construções em Moscou são muito escuras e feias. A princípio, meio desanimador, apesar do dia radioso de sol e cêu azul, coisa rara por lá, segundo os guias. Até que, após mais de uma hora de percurso o ônibus nos deixou numa avenida próxima à praça Vermelha, em frente ao Teatro Bolschoi. É claro que tirei muitas fotos do teatro, lembrança dos meus velhos tempos de ballet. Como só tínhamos um dia e meio em Moscou e muita coisa para ver, não pudemos visitar o teatro. Que pena.


Justamente no passeio em que descemos do ônibus, em frente ao teatro nos deparamos com uma enorme escultura, em meio a um jardim florido, de Karl Marx, o grande ideólogo do sistema político que vigorou na União Soviética de 1917 ao final da década de 80. É claro que tiramos fotos. Celia, idealista e aguerrida ativista de esquerda, estava empolgada.
Fomos caminhando com a guia à nossa frente pelo jardim até chegarmos à entrada da famosa Praça Vermelha, que merece um capítulo à parte. Eis o portal de entrada.

                                                     
                                                

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Finalmente Moscou...

Após 3h e meia de voo, finalmente chegamos a Moscou... às duas horas da manhã - lá são sete horas a mais. Desembarcamos no aeroporto local, cujo nome não me lembro, passamos sem problemas pela imigração e fomos aguardar nossas bagagens. Todas as malas de nosso grupo chegaram, menos uma das minhas duas, justamente a que continha remédios, maquiagem, colares e brincos, desodorante, essas coisas de uso diário. Conversei com Bernadete, nossa guia, que me levou para o departamento de extravio de bagagem. Com muito custo, porque as moças mal falavam ingles, consegui preencher o formulário de constatação de extravio e identificação do formato da mala. Após alguns carimbos no formulário, a russa que estava me atendendo me mandou falar com um rapaz altíssimo e magro que parecia ser da Receita Federal de lá. Fez inúmeras perguntas  e mandou-me escrever várias coisas no formulário, tais como, objetos de uso pessoal, nada de valor significativo e outras de que não me lembro. Feito isso, bateu novo carimbo e mandou-me de volta para a primeira moça, que após conferência final, deu-me um papel com telefone de contato para informação sobre a localização da  bagagem - imaginem eu falando russo ao telefone!
Saímos, então, Bernadete e eu para o saguão do aeroporto, onde estavam minhas primas e amigos, todos preocupados com a ocorrência. Mas o que fazer, a não ser esperar por notícias boas. Lá estava também uma das guias do navio que fora nos esperar - Anastasía, uma russinha linda, de olhos claros, sorridente e o melhor, falando perfeitamente o português. Após trocarmos alguns euros por rublos, entramos no ônibus e rumamos para o porto fluvial, onde estava o navio.
Lá chegamos bem depois das 4h da manhã e fomos recepcionados no hall de entrada com música e por uma moça vestida a caráter que nos ofereceu, a todos que iam entrando, um grande pão salgado,  do qual se tirava um pedaço com a mão para comer. Ai, diriam os germofóbicos, que nojo! Mas como não sou germofóbica, achei o pão uma delícia.
Fomos direcionados às nossas cabines. Fiquei com Angelica. Na cabine ao lado, minha prima Celia - seu nome é Maria Celia, mas para facilitar vou chamá-la só de Celia - com Maria Lucia, na da frente, Luiza e Vera e ao lado, Ana e Jose. Cabe acrescentar que eu nao conhecia Angelica, vinda de Poços de Caldas. Vim a conhecê-la quando desembarcamos em Amsterdam. Mas que companheira ótima, com muito fair play, um pouco bagunceira, é verdade, mas alegre, sempre de bom humor e muito na dela. A cabine era muito pequena, mas tinha lugar para guardar tudo. O conforto era razoável. Após desarrumar a mala - a outra estava extraviada - fomos tirar uma soneca curta, porque o despertar seria às 6.30h. Vejam a foto do navio.

                                                            





quarta-feira, 8 de junho de 2011

No avião para Moscou

Após passearmos em Amsterdam, o ônibus nos deixou na entrada principal do aeroporto Schiphol. Como o portão de embarque era o de número quarenta e tantos, tivemos que caminhar muito, passar por cinco esteiras rolantes e haja perna.
No meio do caminho, topamos com um stand de venda de bebidas, cuja vendedora, ao nos escutar falando português, veio se apresentar como brasileira, de Manaus, casada com holandês e morando em Amsterdam já há dez anos. Estava felicíssima por nos conhecer, detestava a Holanda e estava louca para voltar para o Brasil. Difícil, porque o marido lá tinha um comércio, ela trabalhava no aeroporto e os dois filhos eram holandeses, nascidos e criados lá. É curioso constatar como muitas mulheres brasileiras, em situação econômica difícil no Brasil, que, ao se casarem, se mudam para o estrangeiro - e por isso melhoram até de posição social - não se adaptem ao novo ambiente e  ficam loucas para voltar ao Brasil, mesmo perdendo "status".
Na parte de cima desse stand de bebidas, subindo uns quatro degraus, havia duas grandes salas de estar, com sofás, poltronas, telão de tv, mesinhas e até piano, para servir aos passageiros em trânsito. Nada de salas vip, só para alguns privilegiados. Na Europa, predomina um conceito social. Todos têm o mesmo direito de usufruir confortos e luxos existentes em lugares públicos. O "apharteid" social para alguns endinheirados ou portadores de determinados cartões de crédito é coisa das Américas.
Por fim, após muito andar, chegamos ao portão de embarque e depois de um entrevero criado pelos holandeses que achavam ser necessária a concessão de visto para brasileiros entrarem na Rússia, problema bem resolvido pela Bernadete, nossa guia, embarcamos no avião para umas 3 horas e meia de voo até Moscou.
No avião, sentamos eu e Ana, na ponta e no meio. E na janela acomodou-se uma mocinha, loira, bonitinha, com mochila nas costas, aparentando entre 25 e 28 anos. Achei que era holandesa, pela aparência. Após comermos um delicioso lanche, os comissários de bordo distribuiram formulários para não russos que desembarcariam em Moscou. Observei que a mocinha não recebeu o formulário. Então puxei conversa: Are you russian? Yes, I am. E começamos uma longa conversa. Perguntei muito sobre Moscou, onde ela trabalhava em um banco russo, no Departamento de Recursos Humanos. Estava voltando do Mexico, de férias e ficou curiosa e interessadíssima no Brasil. Ensinou-nos até, a mim e a Ana, algumas saudações em russo. Priviét - é assim que se pronuncia mas não como se escreve porque o alfabeto russo é o ciríaco com letras, símbolos e números - significa o nosso muito usado "oi". Seu nome era Olga, bonita, inteligente e uma ótima impressão, para mim, do povo russo.
No próximo capítulo, a chegada a Moscou, com vários percalços e o embarque no navio.

sábado, 4 de junho de 2011

Uma Rápida Passagem por Amsterdam

Em Amsterdam ocorreu o primeiro quiproquo (abrasileirei a expressão). Como disse, chegamos em torno das 12h, hora local e o guia do Citytour só apareceu às 15h. Nesse interim ficamos na saída do aeroporto, onde há um grande centro comercial sem saber nada. Nossa guia, Bernadete, em meio a inúmeras reclamações, inclusive as minhas, telefonou várias vezes para Belo Horizonte, onde fica a agência organizadora do passeio e também para o guia local mas não deu nenhuma informação consistente. Resultado, perdemos tres horas preciosas. Excursões organizadas... ou desorganizadas por agências de turismo sempre dão furos.
Por fim, saímos em ônibus para passear em Amsterdam, passando primeiro por um distrito na periferia, à beira do rio Amstel que dá o nome à cidade, com casas magníficas, possivelmente residências de verão de holandeses abonados. Chegando a um dos tradicionais e gigantescos moinhos de vento, como se vê a seguir.




Após a sessão de fotos, entramos propriamente na cidade e percorremos a parte central. Amsterdam é linda, possui inúmeros canais pitorescos com aqueles barcos residência típicos de lá e muitas flores. O meio de transporte principal é a bicicleta. Passamos ainda pela casa onde Anne Franck ficou escondida dos nazistas, pela central Praça Dam, onde ficam o Palacio Real, construído no seculo XVII e o conhecido Museu de cera de Madame Tussaud.
Devo dizer a seguir que nesse grupo havia uma concentração de idosos bastante grande. E por insistência dos "veinho" - já que o uso popular da língua está sendo incentivado em cartilha do próprio MEC, tomo essa liberdade - mas não só deles, claro, o guia local concordou em levar-nos a um passeio a pé pelas tortuosas ruas da cidade para conhecer o bairro da Luz, onde ficam as "muié" na vitrine. Não sem antes recomendar especial atenção ao atravessar as ruas e ciclovias por causa das bicicletas.


E assim fomos apreciando as ruazinhas lindas e floridas, os charmosos canais até chegarmos ao mencionado bairro, com a recomendação de não tocar nos vidros e não tirar fotos.  Mas que decepção. Nas vitrines, àquela hora, só havia mulheres gordas, feias, meio velhuscas em trajes sumários. Mesmo as mais novas eram feias até que encontramos uma mulata jovem, bonita, com um lindo cabelo e um biquini minúsculo que, segundo Cecilia, devia ser brasileira. Enfim valeu, pelo exotismo do lugar, pela singularidade das casas de dois andares com vidros (havia uma mulher encima e outra embaixo) e para saciar a curiosidade. Após tanto caminhar, era necessária uma parada hidráulica o que foi feito numa galeria de lojas. Eu, Cecilia e mais um grupo entramos numa lojinha de souvenirs. Luiza e outras foram à toilette. Eis que sai Luiza, chorando de rir. Ao ser perguntada, contou-nos que o banheiro era comum para ambos os sexos. Isso é muito comum na Europa, principalmente em estabelecimentos comerciais, restaurantes, etc. Nesse banheiro, havia uma privada e do lado um mictório. Acima da privada havia uma figura de homem segurando um grande "dito cujo" e com um traço vermelho por cima, ou seja, proibido fazer "xixi" ali. E acima do mictório, a mesma figura masculina, sem traço, ou seja, permitido. Só mesmo em Amsterdam, não?
Após umas comprinhas básicas de souvenirs, voltamos para o aeroporto para pegar o voo das 20.30h para Moscou. Continuem acompanhando nossas aventuras.