sábado, 9 de julho de 2011

A propósito da Revolução de 1932

Aos amigos leitores que acompanham a nossa saga russa, devo fazer um "break" para algumas considerações a comentários que ouvi ontem na Rádio BandnewsFM, no jornal da manhã comandado por Ricardo Boechat, em que o analista das sextas-feiras, Alberto Almeida, "O Desavisado" (cognome inventado por mim obviamente) declarou que São Paulo era o único lugar no mundo a comemorar, inclusive com feriado local, uma data de derrotas, 9 de julho que marcou o início da Revolução Constitucionalista de 1932.
Chamo-o de desavisado, uma gentileza minha, porque, como demonstrarei a seguir, a Revolução Constitucionalista de 1932 não foi um evento de derrotas mas sim de muitas conquistas democráticas para São Paulo e para o Brasil. Senão vejamos.
A Revolução de 1930 que trouxe ao poder federal Getúlio Vargas, ao extinguir a Constituição de 1891, limitou a autonomia dos estados, que era enorme na época, destituiu seu presidente - nome dado ao governador - e foi nomeado por Vargas um interventor de fora para governar São Paulo. Como disse, a autonomia dos estados na época era muito grande e a nomeação de um não paulista como autoridade máxima provocou enorme insatisfação nas elites dominantes. Insatisfação aliada à constatação de que Vargas governava com enormes poderes ditatoriais, sem lei e sem constituição que fora revogada. Movimentos populares, pedindo uma nova constituição, começaram em 1932, liderados principalmente pelos estudantes de direito da Faculdade do Largo de São Francisco, até que em maio desse ano, em meio a uma gigantesca manifestação pública contra o ditador, forças federais mataram quatro estudantes de direito, Martins, Miragaia, Drausio e Camargo. Nascia assim o movimento MMDC que culminou, no dia 9 de julho, na luta armada visando à destituição do caudilho Vargas. Os paulistas contavam, a princípio, com o apoio de Mato Grosso, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, mas no início do movimento armado Minas Gerais e Rio Grande do Sul recuaram e só Mato Grosso permaneceu fiel. Obviamente as forças estaduais, compostas, além de militares das Forças Públicas, por jovens estudantes universitários e mesmo adolescentes secundaristas que se engajaram no movimento, foram cruelmente trucidadas pelas tropas federais em cerca de tres meses de luta.
Mas o objetivo primordial da Revolução Constitucionalista de 1932, como o nome mesmo diz, foi alcançado. O ditador Vargas nomeou um interventor paulista, Pedro de Toledo, e foi obrigado a convocar uma Assembléia Nacional Constituinte que elaborou e promulgou a Constituição Federal de 1934, uma das mais democráticas e bem elaboradas constituições brasileiras. Mas, infelizmente isso durou pouco, porque o ditador não gostava de se submeter a leis e tudo acabou com o golpe institucional de 1937.
Como se vê, São Paulo não comemora derrotas no dia 9 de julho, como disse o desavisado Antonio Almeida, comentarista da BandNewsFM. Presta homenagem aos heróis, grande parte deles muito jovens, que perderam a vida em prol da luta democrática que ocorre neste país há dezenas de anos.

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