domingo, 19 de junho de 2011

Navegando para Uglich

No segundo dia de navegação, logo pela manhã, tivemos um exercício de salvamento. A um apito estridente, colocamos um colete salvavidas, laranja berrante que estava nas cabines e subimos para o deck superior, tudo no mínimo espaço de tempo possível. A reunião no deck era só para fotos e filmagem, todo mundo laranjinha.
Algumas considerações sobre o navio. Na verdade era um grande barco com cabines, relativamente confortáveis, dois bares na proa, em andares diferentes, dois restaurantes, um bem grande que servia os brasileiros, e outro, menor, no andar de cima, para franceses, espanhóis e dinamarqueses. Havia também um salão de festa no último andar e o deck de popa onde apreciávamos a paisagem em lindos dias de sol. A diversão era pouca. Uma cantora jovem e bonita, com um corpão e pouca voz,  a despertar os olhares cobiçosos dos "veinho". Um conjunto folclórico de tres pessoas, razoável, o único excelente era o rapaz instrumentista da balalaika, jovem que deu show com o instrumento. À noite, na discoteca, colocavam aquela música martelante -tum tum tum tum tum - que ninguém aguentava. Então nos reuníamos, muitas mulheres e poucos homens que gostavam de cantar, sob a regência da Maria Lucia, que tinha uma bela voz e fazia parte de um conjunto de seresta em Belo Horizonte. Assim, aproveitamos esse período de navegação para por o sono em dia, porque desde o dia da chegada havíamos dormido quase nada, sem se falar do efeito jetlag por causa das sete horas de diferença no fuso horário.
Por volta da hora do almoço, chegamos a Uglich, pequena cidade com muita história.
Descemos do navio com nosso novo guia Dmitri e fomos caminhando por uma grande feira de artesanato, colírio para os olhos, mas que ficaria para o final da visita, disse Dmitri. Uglich surgiu à beira do rio Volga, por onde navegávamos, no final do século X e foi palco de uma tragédia entre tantas ocorridas na Rússia. |Lá foi assassinado, no século XVI,  o filho mais novo, com apenas 10 anos de idade, do tzar Ivan o Terrível. Como ele era o último representante da dinastia Rurik que reinou na Rússia até então, após sangrentas lutas pelo poder, foi nomeado um Romanov como czar, por um conselho de nobres. Os Romanov reinaram até serem dizimados pela revolução bolchevique em 1917. A criança assassinada foi canonizada, no ritual ortodoxo, claro, e no local de seu assassinato foi construída uma pequena e linda igreja, Dmitry (era o nome dele) no Sangue. Vejam.


Após, fomos à Igreja da Transfiguração, maior, onde fomos recebidos por um coral, composto de quatro jovens cantores excepcionais, todos homens, uma maravilha, eles brincavam com os variados tons de voz. Dava vontade de nunca mais parar de ouvi-los.


Como se vê pelas fotos, esses momumentos ficavam numa imensa área verde por onde passeamos bastante, sempre com Dmitri, nosso guia, a nos relatar os acontecimentos históricos ali ocorridos. Por fim, para alegria de todos, retornamos à feira de artesanato, passando antes por uma loja de relógios fabricados no local e objetos pintados a mão, lindíssimos. Nessa feira, encontrei, em meio a matriochkas, roupas típicas e souvenirs de todo tipo, aquele chapéu de pelo grosso com orelhas, típico da Rússia e que tinha sido encomendado por Gregory, um de meus genros. Um luxo o chapéu. Celia, então fez a festa, comprou até não poder mais, presentes para todos... e para ela também, claro. Como uma ativista de esquerda consegue ser tão consumista, perguntei-lhe brincando. Ah, devemos sempre tirar proveito do regime vigente, respondeu-me. Voltamos ao navio, carregadas de sacolas para almoçar e prosseguir para a próxima cidade, Yaroslavl.

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